terça-feira, 24 de agosto de 2010

As grandes fábulas em nossas vidas.

Em um trabalho para um cliente tive acesso a uma pesquisa do instituto pró-livro (retratos da leitura do Brasil) que continha a seguinte pergunta: qual o livro mais importante na vida dos leitores. Souberam responder esta pergunta 59%, o que corresponde a 56,2 milhões de pessoas. Bastante né? O interessante são as respostas. Vai aí os dez mais citados em ordem:
1 -  Bíblia, com o número de citações 10 vezes maior que o segundo colocado;
2 – O Sítio do Pica Pau Amarelo (embora não conste da bibliografia brasileira, é uma referência à obra de Monteiro Lobato);
3 – Chapeuzinho Vermelho;
4 – Harry Potter;
5 – Pequeno Príncipe;
6 – Os Três Porquinhos;
7 – Dom Casmurro;
8 – A Branca de Neve;
9 – Violetas na Janela;
10 – O Alquimista.
Seguem-se ainda nesta lista: Cinderela, Pinóquio, Peter Pan, Meu Pé de Laranja Lima, entre outros, não nesta ordem de importância. Fiquei muito surpreso com essa informação. Percebe-se que não há nenhum título de auto-ajuda (exceto “O Alquimista” que apesar do autor, não dá para rotular o livro como auto-ajuda), nenhum título de filosofia clássica ou qualquer outro guru dos negócios, administração, etc. Enfim, acho que muitos, como eu, esperavam, talvez livros mais complexos. Mas não. A literatura chamada infantil são as mais marcantes. Não seria pela teoria da formação da personalidade que se daria até os três anos de idade. O que leva então a nos encantarmos tanto pelas grandes fábulas? Uma forma mais simples e lúdica de entendermos os grandes temas de nossa existência? Uma forma de entrarmos em mundos paralelos de nossas vidas? Acesso a um universo que todos gostaríamos de viver?
Citando um trecho do livro “O Jogo do anjo” de Carlos Ruiz Zafón a personagem Sr. Corelli fala ao protagonista do livro: “...as fábulas talvez sejam um dos mecanismos literários mais interessantes que já se inventou... ensinam que os seres humanos aprendem e absorvem idéias e conceitos através de narrativas, de histórias, e não de lições magistrais ou discursos teóricos. Todos eles são relatos de personagens que enfrentam a vida e superam obstáculos, figuras que embarcam numa viagem de enriquecimento espiritual através de peripécias e revelações”. Vale dizer que este Sr. Corelli pediu ao protagonista que escrevesse uma religião.
Hoje nossas fábulas são mais tecnológicas como “Avatar”; mais divertidas como “Procurando Nemo” e “Shrek”; épicas como “Senhor dos Anéis” ou mais profundas como “Batman, o Cavaleiro das Trevas”. Mas são fábulas. Ou outras formas de vermos o mundo?
Porque duvidamos das fábulas e temos certeza que a realidade é a situação do Iraque, do Afeganistão, a invasão de traficantes no Intercontinental, a miséria da África ou do Haiti e todas as loucuras que vemos todos os dias na maioria do jornais. Somos os mesmos seres que criamos as duas coisas: fábulas e desgraças.
Moral da história: está na hora de vivermos um outro lado de nossa existência, talvez como Benjamin Button, começarmos na velhice e terminarmos criança, já que todas as grandes fábulas são classificadas como literatura infantil. Se não der fisicamente como no filme, talvez em nossas mentes possamos conseguir.