terça-feira, 25 de outubro de 2011

A cada dia deixamos um pouco de ser animal


Há milênios trava-se uma luta para o domínio da mente. Em diversos momentos um grupo se reúne para decidir quem você é, em que acreditar, o que dizer, o que fazer, a quem adorar e a quem odiar. Isto se faz através de inúmeros mecanismos: religiosos, políticos, filosóficos e culturais. Como sair dessa “cilada” criada por quem tem o domínio sobre a maioria. Domínio este, financeiro ou cultural.
Vivemos um tempo onde ganha espaço o pensamento, isto pode ser bom e ruim, da mesma forma que aprendemos a pensar livre, podemos ser dominados por pensamentos externos, neste caso a informação e seu controle passa a ter um grande peso. Podemos viver um tempo em que a escravidão volta a tona, só que agora com uma nova forma: escravidão mental; onde os principais fatores de controle é o financeiro e o cultural, já citados acima.
No âmbito financeiro, é de forma clara, você depende de dinheiro para a satisfação de suas necessidades contemporâneas, que crescem a cada dia, e devido a isso se submete ao sistema de trabalho excessivo que tira muitas vezes a possibilidade de estruturar pensamentos e se dedicar a práticas mentais saudáveis. O estresse acaba sendo o dono das ações em muitos momentos o que agrava esse circulo vicioso letárgico.
Quanto ao fator cultural, o termo “Soft Power” cunhado por Eric Hobsbawm, nascido no Egito, professor emérito da universidade de Cambridge exemplifica o domínio cultural e ascensão do império americano através do cinema, literatura, moda, estilo de vida e todo seu aparato. Não é pela força física, onde eles mesmos já perderam mais de 4 trilhões de dólares em suas investidas bélicas, o que causa hoje um grande déficit ameaçando seu poderio econômico mundial.
Estamos em outros tempos. Cabe a cada um de nós o entendimento do tempo em que vivemos. O que era normal em outras épocas hoje nos parece absurdo.
Seria ótimo se pudéssemos zerar nossa memória e olharmos este mundo de transição de outra forma. Esquecermos momentaneamente nossas crenças, reanalisá-las. Deixar para traz os preconceitos e poder olhar de cima nossas vidas, como olhamos o andar de formigas em seu eterno vai e vem, em filas, cumprindo seu papel em sua organização.
A luta é dominar a própria mente, o que talvez seja mais difícil que entregá-la aos ventos da contemporaneidade.
Esquecer nossa necessidade de subsistência e acreditar que o mundo começa a melhorar com a melhora de nossa qualidade de pensamento. Sem influências, com análise de tudo e compreensão do que nos é dito. A decisão da libertação é exclusivamente de cada um. Instrumento para isso todos tem, informação também, é preciso um pouco de tranqüilidade para pensar sobre tudo com a mente limpa.
Vivemos hoje ainda com alguns resquícios tribais quanto aos ritos, formas organizacionais entre outras manifestações, mas observando as mudanças no mundo árabe, como um dos exemplos, através das quedas de seus ditadores, podemos ver que a forma humana de se organizar começa a experimentar outros ares.
Temos novos caminhos à trilhar. Com valores fundamentados realmente no bem estar de todos, no desenvolvimento humano em seu sentido mais amplo, na valorização do conjunto e não da individualidade, no respeito aos limites naturais, no entendimento da cultura e da arte como formação humana e não apenas como entretenimento e diversão. Mas cada coisa a sua hora. E estamos nesta hora. De nos libertarmos de um sistema escravagista e controlador para nos tornarmos pessoas mais livres e completas.
Até por uma analogia ao nosso nascer, crescer e morrer na terra, podemos dizer que caminhamos para sermos a cada dia menos animal, menos corpo...